25 Lições de
Vida Preciosas que não Aprendi na Escola
Publicado
em 19 de setembro de 2016
André
Camargo (Psicologo, Escritor e Criativo Digital
apaixonado por processos de Busca e Transformação)
Viver é muito
perigoso.
Porque ainda não se sabe.
Porque aprender-a-viver
é que é o viver, mesmo.
Porque ainda não se sabe.
Porque aprender-a-viver
é que é o viver, mesmo.
João Guimarães Rosa
Eu cresci entre
a segunda metade dos anos 70 e o começo dos 80. Bons tempos! A gente assistia
‘As Panteras’, ‘Chips’, ‘O Elo Perdido’ e ‘Sítio do Picapau Amarelo’.
Também tinha ‘Os Trapalhões’, Xuxa, Balão Mágico e
Menudo, que é melhor nem comentar. No domingo, era Silvio Santos o dia inteiro.
À noite, já tingido pelo clima da segunda, Fantástico, o show da vida.
Mais tarde, a gente ouvia RPM, Titãs, Kid Abelha,
Blitz, Ultraje a Rigor, Paralamas, Legião. Vimos surgirem o telejogo Philco, o
Atari e o Odissey, e jogamos Pac-Man, Super Mario Bros, Enduro, River Raid e
Donkey Kong.
Não existia internet.
Andávamos de Fusca, Chevette (GM) e Corcel (Ford).
Passávamos as férias no Rio de Janeiro, em Sorocaba ou em Caraguá.
Meu pai se orgulhava de sua máquina fotográfica, a
clássica Olympus Trip 35, e depois fazia uns slides que a gente assistia
projetados na parede, com a luz apagada. Aquilo era uma coisa meio mágica.
Minha memória não é nada boa. Eu me recordo da
infância em flashes embaçados amalgamados a fotos, slides e histórias da
família que contaram sobre mim.
Mas eu sei que foi assim, aquela época: eu era
querido entre as crianças, as professoras, nossos familiares, os pais dos meus
amigos e os amigos dos meus pais, uma criança inteligente e afetuosa, arrojada,
responsável e comunicativa, que sempre tirava notas altas na escola, era bom de
futebol e conquistava medalhas no judô. Aquele era o meu mundo e nele eu
prosperava.
Os primeiros sinais de mudança sobrevieram
mansamente, como nuvens de chumbo na periferia da visão. E eu não percebi.
Primeiro as meninas, depois os meninos, todos
cresceram.
Vieram os bailinhos com música lenta, ao som de
George Michael, Donna Summer e, alguns anos mais tarde, Your Latest Trick, do Dire Straits.
Mudaram os interesses, as brincadeiras, as piadas,
os rituais, a voz e o corpo. De repente as paqueras, dançar coladinho, os
primeiros beijos e namoros, enquanto eu seguia estranho a tudo aquilo,
baixinho, meio gordinho e de óculos quadrados, usando um corte de cabelo
escolhido pela minha mãe.
Descobri que quando todos os seus amigos estão
virando adolescentes, uma criança fofinha é a pior coisa que você pode ser.
Então me vi mergulhado em um universo cujas leis
não compreendia. Minhas piadas não funcionavam mais e não tinha ninguém com
quem eu pudesse conversar sobre me sentir estranho, triste e sozinho. Afinal,
eu era um menino que não dava trabalho, ganhava medalhas e sempre tirava notas
altas.
Minha estréia na puberdade foi tipo ser arrancado
do sofá de casa por uma pinça cósmica e arremessado na órbita de Saturno. Onde
ainda passaria um bom tempo.
De lá para cá, muita água rolou por baixo da ponte.
Hoje eu tenho dois filhos e aprendi com a vida umas coisas que fiquei a fim de
compartilhar. Espero que, de algum modo, sejam úteis para você.
1.
De uma hora para outra, tudo muda. E quando tudo
muda, não tem como voltar atrás.
2.
Todo ser humano precisa aumentar sua familiaridade
com os próprios sentimentos e aprender a falar sobre eles.
Em
contrapartida, todo ser humano precisa aprender a ‘escutar’ os sentimentos das
outras pessoas.
É assim que nos
tornamos… humanos.
3. Se pretendemos amadurecer, precisamos
reconhecer quando temos reações infantis para poder examiná-las à luz do que já
vivemos e aprendemos desde que deixamos de ser crianças.
4. Com frequência, não são os outros que
rejeitam você; é você que tem dificuldade de enxergar valor em si mesmo/a.
Aí
acaba provocando rejeição.
5. Se
você sente vergonha de quem é, isso não quer dizer que você não é bom/boa o
bastante; é provável que, em algum período importante do começo da sua vida,
você não tenha recebido a atenção e o cuidado de que precisava.
Quando viramos
adultos, no entanto, já era: a gente precisa aprender a lamber as
próprias feridas.
6. Diferentes tipos de terapias, psicanálise,
psiquiatria e caminhos espirituais podem ajudar muito pessoas em sofrimento.
Com frequência,
porém, as pessoas que mais precisam de ajuda são as que acham que não precisam.
7. Há mudanças na vida que talvez levem muito, muito
tempo e exijam muita perseverança para acontecer.
As coisas podem
não mudar tanto quanto você gostaria, nem na velocidade que você gostaria.
Mas, quando se
trata de quem você é e da sua contribuição para o mundo, mesmo pequenas
mudanças podem fazer toda a diferença.
8. A relação mais íntima e importante que você pode
ter é com você mesmo/a. Nem com seus pais, irmãos e filhos, nem com seu
parceiro/a ou melhor amigo/a. Com mais ninguém.
Paradoxalmente,
uma relação de intimidade consigo mesmo/a aproximará você do mundo e das
pessoas mais que qualquer outra coisa.
9. Se o seu navio naufragou à noite em meio a uma
tempestade e você está sozinho/a com frio no mar escuro, flutue. Aguarde.
Se está tudo
ruim na vida, foque apenas em continuar respirando.
10. Se você, ou qualquer outra pessoa, é arrogante e se
acha superior aos outros, isso é um lance inconsciente compensatório, que
encobre os sentimentos verdadeiros.
Se você ou outra
pessoa se diminui diante dos outros e se considera inferior, isso também é uma
forma de arrogância. Ou de desespero.
Em qualquer
caso, o melhor é uma atitude de genuína compaixão com quem precisa lidar com
sentimentos amargos de insegurança e baixa auto-estima. Inclusive se essa
pessoa for você.
11. Tornar-se adulto/a é algo mais que completar 21
anos. Pode acontecer a qualquer tempo — ou nunca.
A porta de
entrada para o mundo adulto é deixar de se comportar como vítima, chamar a
responsa e tomar a vida nas próprias mãos.
12. Com frequência, as coisas só vão fazer sentido
muito tempo depois. Deixe sua história
de vida falar.
13. Quando um ambiente ou uma relação só traz à tona o
que você tem de pior, melhor sair fora.
Duas pessoas
agarradas uma à outra em desespero juntas se afogam.
14. Você não pode ajudar uma pessoa que não quer ser
ajudada. Isso inclui você mesmo/a.
15. Se você sente que o que está fazendo não tem nada a
ver com você, pare. Vá fazer outra coisa.
Poucas
coisas são tão desesperadoras quanto desistir de si mesmo/a.
16. Com frequência, o modo como as pessoas te tratam
não tem a ver com o que pensam a seu respeito, mas com a história de vida delas
e com o que está acontecendo com elas naquele dia.
Para o bem ou
para o mal, você não é o centro do mundo de mais ninguém.
17. Com frequência, o que você acha que as pessoas
pensam e sentem a seu respeito é o que você pensa e sente a seu respeito.
18. Mesmo que só dê merda, melhor ser quem você é, fiel
a seus sentimentos e necessidades, do que tentar agradar ou imitar
os outros.
Quando deixamos
de nos proteger por trás de máscaras, permitimos que o atrito com a realidade
nos transforme. Ainda que a gente passe um tempo em carne viva.
19. Se você estiver numa balada psicodélica, olhar para
o lado e achar que todo mundo está olhando para você, aí de repente o rosto das
pessoas começa a derreter e elas começam a se transformar em monstros, não saia
correndo desesperado/a atrás da ambulância, certo de que ela é um portal entre
dois mundos. Procure respirar lenta e profundamente.
Em
algumas horas, o efeito passa.
20. Se estiver se sentindo arrasado/a, você
experimentará o lugar mais bonito como o inferno. Se estiver bem com você
mesmo/a, qualquer cantinho sujo será o paraíso.
21. Do mesmo jeito, você pode ter muito dinheiro e se
sentir péssimo ou, ao contrário, ter pouco dinheiro e se sentir bem.
Mas não se
engane: por mais que dinheiro, em si, não traga felicidade, uma sensação de
segurança material e financeira, no nosso modelo de sociedade, costuma ser
decisiva para que você respire em paz.
22. Tem muita coisa na vida que não dá para mudar, por
mais determinados que sejamos. Sempre é possível, porém, mudar o modo como
vemos as coisas.
O passo decisivo
é aprender a trocar de narrativa.
23. Nosso corpo precisa de nutrição saudável, repouso e
atividades físicas.
Do mesmo jeito,
nossa mente necessita de atividade (treino da atenção), alimentação saudável
(conteúdo e relações enriquecedoras), descanso (sono, meditação) e play
(brincadeira, aventura, criação, jogo, fruição e faz de conta).
24. Se você não aprende a lidar com as diferenças nem a
investir nas relações mesmo quando mergulham em períodos sombrios, cedo ou
tarde, vai começar a se sentir muito só.
25. A porta de entrada para o caminho espiritual é
compreender que essa pessoa que somos, com sua história de vida, com todos os
seus sentimentos, desejos, medos, fantasias e sonhos de felicidade, também
vai morrer.
E
aprender a viver com isso.